Post by Selma Singulano - C.A. CIS / UFV
Os estudantes de Ciências Sociais, através de suas organizações
Os estudantes de Ciências Sociais, através de suas organizações
político-acadêmicas, tornam público o seu absoluto repúdio à entrega
do prêmio “Florestan Fernandes” pela Sociedade Brasileira de
Sociologia ao ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso,
durante a abertura do XIV Congresso Brasileiro de Sociologia –
realizado recentemente na UFRJ.
O Prêmio Florestan Fernandes, instituído no XI Congresso Brasileiro de
Sociologia, em 2003, tem o objetivo de homenagear sociólogos que, por
seu empenho na produção do conhecimento e liderança institucional, são
marcos de referência na história da disciplina no Brasil.
Ao longo da história da SBS, inúmeros intelectuais e sociólogos que
contribuíram de forma expressiva para o progresso das Ciências Sociais
no Brasil, já receberam o prêmio “Florestan Fernandes” como Manuel
Correia de Andrade, Heraldo Pessoa Souto Maior, Octávio Ianni, Neuma
Aguiar, José de Souza Martins, Juarez Rubens Brandão Lopes, Wilma de
Mendonça Figueiredo, Francisco de Oliveira, Silke Weber, entre outros.
Reconhecimento mais que merecido.
Em 8 de outubro de 2001, o sociólogo e presidente Fernando Henrique
Cardoso vetou um a lei que incluía as disciplinas Filosofia e
Sociologia como disciplinas obrigatórias no currículo das escolas de
Ensino Médio no país, o que beneficiaria cerca de dez milhões de
jovens. Em 1997, já havia sido apresentado e aprovado na Câmara dos
Deputados o Projeto de Lei (PL 3.178/97), que alterava a LDB incluindo
Filosofia e Sociologia como disciplinas obrigatórias. Quando enviado à
sanção presidencial, porém, o projeto foi vetado integralmente por
Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que agora foi homenageado pela SBS.
Quando do veto em 2001, este foi considerado por intelectuais e
lideres políticos, como bastante grave para a credibilidade da
Sociologia e dos Sociólogos, perante a opinião publica. Nesse sentido,
consideramos a outorga do prêmio ao ex-presidente e sociólogo um
ultraje à memória de Florestan Fernandes e a própria história da
entidade científica (SBS), sucessora da Sociedade de Sociologia de São
Paulo e que sempre foi uma das aliadas nessa luta nacional.
Em principio, tal gesto parece representar uma expressão intolerável
de reabilitação de um sociólogo que brindou a sociedade brasileira com
o famoso “esqueçam o que escrevi”. Não se trata aqui de preconceito e
de intolerância, mas de conformação com valores que modelam o espírito
critico do mestre Florestan Fernandes. Torna-se bastante pertinente
refletir que a disputa de ideias e espaços devem servir não a
aceitação social e reabilitação da velha ordem neoliberal, mas ás
transformações sociais alcançadas pela sociedade brasileira no atual
momento, com o reconhecimento, inclusive, da Sociologia no Ensino
Médio.
Somamos-nos às entidades como o Sindicato dos Sociólogos de São Paulo
(Sinsesp) nos protestos contra a posição e o gesto simbólico expressos
pela Sociedade Brasileira de Sociologia. Encaminharemos a todos os
estudantes de Ciências Sociais no Brasil a nossa manifestação de
repúdio ao homem político insensível que renegou a Sociologia ao
qualificar, na época, o projeto de Sociologia no Ensino Médio como
“contrário ao interesse público”. Seguiremos apoiando o reconhecimento
a todos os profissionais que não separam teoria e prática, aliando-as
com coerência na sua atividade cotidiana.
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